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Quem sou eu
- Reni Adriano
- Escritor. Pelo romance LUGAR (Tinta Negra), recebeu o Prêmio Minas Gerais de Literatura 2009, na categoria ficção, e o Prêmio Machado de Assis 2010 da Fundação Biblioteca Nacional (3° lugar). Pelo mesmo trabalho, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2011, na categoria Livro do Ano - Autor Estreante. É consultor em programas de incentivo à leitura e em formação de leitores públicos. Vive em SP.
Propósito
Este blog parte da íntima necessidade de compartilhar, com quem interessar possa, algumas experiências bem-sucedidas em programas de incentivo à leitura.
O autor parte de uma experiência concreta, tendo atuado na linha de frente de um dos principais projetos de leitura no Estado de São Paulo, desde sua gênese.
Originado em Diadema, sendo uma alternativa para sancionar os altos índices de violência e analfabetismo funcional, o referido projeto – hoje um programa creditado por grandes fundações dos setores eletroetrônico e bancário, cobrindo grande parte da Rede Estadual de Ensino em São Bernardo do Campo e Grande São Paulo, além de conduzir pilotos do programa nas capitais de Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro – é uma experiência de sucesso na promoção de competências e habilidades de leitura, capacitação para debates, ampliação do repertório cultural e resgate de elementos éticos e de outros fatores da vida cívica.
Salvaguardando os referidos êxitos conquistados naquele programa, e tendo em foco aqueles problemas atacados, os relatos dessa experiência visam a refletir (hoje com olhar mais distanciado) sobre um longo processo de aprendizagem.
A maior dificuldade nesse processo foi conciliar as exigências demasiadamente sociais da instituição (desenvolvimento, a partir da literatura, de habilidades e competências transferíveis para o mundo do trabalho, por exemplo) com aspectos mais amplos da especificidade literária, que, enquanto obra de arte, aspira à totalidade.
E a referida dificuldade às vezes se fazia presente na redução do repertório literário, a partir da primazia dada a textos de cunho politicamente correto e idealizado. Assim, livros de valor literário formidável às vezes eram preteridos em função de outros literariamente questionáveis. E os clássicos ali adotados antes passavam por um crivo demasiado rigoroso, despotencializando precisamente o que havia de questionador, subversivo e amplo.
Contudo, jamais pactuei com o estranho paradoxo daí resultante: geralmente ali se “media” a ética do grupo pela obra de arte; mas em se tratando daquilo que propriamente incômodo e artístico, “media-se” a arte pela ética defensiva e assustadiça do grupo!
Desde o primeiro momento, impus-me o desafio e assumi o risco de tratar de Literatura.
Primeiro por entender que, em se tratando de Literatura, a defasagem de leitura ultrapassa o chamado analfabetismo funcional, uma vez que a escrita literária aponta para além da mera funcionalidade e não são suficientes, para a sua compreensão e fruição plenas, a mera decodificação textual.
Assim, uma vez decodificado (lido) um texto literário, o seu aproveitamento se dá através de instrumentos próprios, peculiares às obras de arte – analisar, por exemplo, uma personagem através de investidas “psicológicas” ou morais nada diz da especificidade de um texto, nem considera a diferença entre “sujeito” e “personagem”. Além do que, um texto literário pode ser destituído de personagens e no entanto alçar-se ao posto de elevada obra de arte.
O ponto de partida para o meu trabalho deveria ser, por ser o fundamento do objeto em foco, o trabalho acurado com a palavra: a forma como o texto literário diz o que diz, valendo-se de sutilezas, ambigüidades e refinamentos estilísticos que ultrapassam (dizem mais que) o uso corriqueiro da linguagem, e com isso rendendo um aprofundamento da condição humana – refletindo, conseqüentemente, na totalidade de nossas ações: ética, política, econômica, social, individual, estética, filosófica, etc.
A obra é, portanto, uma totalidade, e deve ser fruída nesta plenitude, jamais tomada como mero instrumento para uma intervenção direcionada e parcial.
Para mim, a proposta, que não visava ser uma extensão de métodos e enfoques utilizados nas salas de aula, não era também uma explanação exaustiva e acadêmica de estéticas literárias. Era antes uma articulação dialógica e cuidadosa entre elementos locais e fundadores das experiências e percepções dos jovens com elementos que, no desenvolvimento da instituição literária, se tornaram vitais para a assimilação e transformação das experiências humanas.
E o que me ficou, ao longo de seis anos de trabalho naquele projeto, foi a descoberta de que os jovens (todos eram da Rede Pública de Ensino) adoram saber e, quando aprendem de verdade, se mostram profundamente gratos e adquirem uma autonomia incomum no universo do conhecimento.
A partir de agora, postarei relatos detalhados de algumas dessas experiências e exemplos de materiais de apoio utilizados nos projetos.
A preferência por postagens relacionadas à obra de Guimarães Rosa se deve ao mero fato de se tratar do mais importante escritor brasileiro. Geralmente considerado "difícil", se devidamente apresentado aos jovens, e devidamente lido, o poder de despertar paixões em seus leitores logo arrebata meninas e meninos àquele universo de "milmaravilhamento".
E, sempre a quem interessar possa, fico aberto a comentários, críticas, sugestões... Mas, sobretudo, espero viabilizar uma possível troca de materiais e experiências de utilidade pública.
Bem-vindos!
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